Proponho a leitura de um texto de estudo algo difícil...

Antes de mais registo com agrado a tua participação e interesse neste nosso espaço. Parece que vai ajudar a manter vivo o espírito que queremos para as aulas de Filosofia.
Para já aqui fica um texto com um vocabulário que te irá dar algum trabalho. Não desistas à primeira pois o conteúdo já foi abordado na sala de aula. Podes bem vencer este obstáculo!

"(...) O que é que faz de um discurso, um discurso retórico e, enquanto retórico, um discurso persuasivo?

A tese que pretendemos defender, seguindo de perto a posição de Olivier Reboul, é a de que é retórico num discurso o que o torna persuasivo pela união do fundo e da forma: a) entendendo por fundo o conteúdo informativo e a estrutura lógica da argumentação (lógos); b) entendendo por forma o que diz respeito à afectividade (o éthos e o páthos), à construção (dispositio) e ao estilo (elocutio), dando a este último ênfase particular. Dito de outro modo, o discurso retórico, porque se quer persuasivo, tem de assentar sempre em dois pilares: o pilar argumentativo e o pilar oratório.
É por causa do pilar oratório que a retórica se torna mais suspeita, mas é também por ele que a retórica se torna, para o bem e para o mal, mais eficaz, tornando difícil a paráfrase da mensagem e a réplica. Para contrabalançar os desequilíbrios de um discurso persuasivo, a situação retórica clássica sempre postulou o direito ao contraditório, a outro(s) discurso(s) e instituiu dois princípios ou critérios: o princípio da transparência (sabe-se que o orador ou advogado está a defender a sua tese ou causa e tem a obrigação de lhes dar todas as oportunidades); e o princípio da reciprocidade (sabe-se que outro orador ou advogado irá fazer o contraditório)."

Joaquim Neves Vicente