Mito - um apontamento - por Olga Pombo

Na Grécia Antiga, os sentidos primordiais da palavra mythos eram os de palavra ou discurso. Na literatura grega, mythos surge com o sentido de história ou narrativa a transmitir através da palavra.
O mito é, antes de mais, uma narrativa cuja existência depende da materialização na palavra falada ou escrita, do contar alguma coisa a alguém. Enquanto tal, o mito é a estrutura que permanece independentemente da sua materialização literária. Quer isto dizer que "um mito não é o mito". Ao longo dos tempos, um mesmo mito pode ser preenchido e enriquecido com diversos pormenores e actualizações. De realçar portanto o aspecto dinâmico, a possibilidade que o mito tem de evoluir, de ser enriquecido, ou pelo contrário, de ser empobrecido e, inclusivamente, de desaparecer. O mito é, assim, passível de construção, reconstrução e actualização.
Os aspectos que caracterizam o mito na Antiguidade Clássica grega são o facto de este ser uma narrativa anónima, fabulosa, de aceitação colectiva e com localização num tempo indeterminado. Enquanto narrativa, o mito é uma história que se conta relativa a acontecimentos e personagens do passado. O seu autor não é identificado. Enquanto narrativa de autor anónimo, o mito é produto de um património cultural colectivo. É uma narrativa fabulosa, na qual há a intervenção de construções imaginárias. O seu tema pertence pois ao fundo lendário, étnico e imaginário de uma determinada cultura, tem por base uma tradição popular que se perde na origem do tempo. Colectivamente aceite, o mito acaba muitas vezes por ser integrado no sistema religioso.
As personagens dos mitos são seres extraordinários: deuses e heróis. Os deuses são imortais. Os heróis são, ou semi-deuses, ou filhos de mortais e de divindades, ou mortais filhos de mortais que, pelos seus feitos, merecem ultrapassar a dimensão humana.
Os tipos de mitos mais vulgares são os seguintes:
Mito teogónico - relata o nascimento dos deuses, as suas genealogias e parentescos;
Mito teológico – descreve as suas histórias, casamentos, afectos e relações;
Mito cosmogónico – debruça-se sobre a criação e o ordenamento do mundo e dos seus elementos. De destacar a quase universalidade deste tipo de mitos, reflexo da preocupação do homem em relação às suas origens e da tentativa de ordenar e compreender, de um modo natural e evolutivo, o universo exterior e envolvente;
Mito antropogónico - narra a criação do homem;
Mito antropológico – prolonga o anterior, descrevendo as características e o desenvolvimento do género humano;
Mito heróico – narra as actividades dos heróis que (tal como Prometeu) melhoraram as condições do homem;
Mito etiológico – explica a origem das pessoas, dos animais, dos lugares e das coisas; pesquisa as causas por que se constituíram as tradições, procurando encontrar episódios que justifiquem ao nomes (tendo um nome cuja origem desconhecemos, inventa-se uma história que o explique; uma vez assimilada e aceite, esta pode converter-se num mito);
Mito naturalista – justifica, miticamente, os fenómenos naturais, telúricos, astrais e atmosféricos (como o homem não conseguia explicar o relâmpago e o trovão, inventou um deus  do raio e do trovão);
Mito moral – relata as lutas entre o Bem e o Mal, entre anjos e demónios, entre forças ou elementos contrários, procurando retirar uma conclusão moral e esclarecedora;
Mito escatológico – faz uma antevisão do futuro, do homem após a morte, do fim do mundo;
Mito soteriológico – apresenta o universo da iniciação e dos mistérios, dos rituais, dos percursos purificadores.
Olga Pombo in educ.fc.ul.pt