Apontamento - Religião e conduta moral

Deveremos começar por definir a religião como um conjunto de crenças e práticas referentes ao sobrenatural, quase sempre organizadas como doutrinas, seguidas por uma comunidade de crentes que agem em busca de uma salvação e ou libertação, projectando os seus valores a toda a humanidade.
A experiência religiosa surge essencialmente de duas fontes: a sociedade e a consciência. O meio em que nascemos marca-nos de forma muito clara bem como a consciência da nossa finitude nos diversos níveis, podendo despertar-nos, ou não, para uma outra dimensão da realidade, o Transcendente. Acontecendo, esta experiência cria uma ligação profunda e envolvente com o Sagrado, sendo este a marca fundamental deste tipo de experiência: o Sagrado corresponde a uma realidade perfeita, divina e oposta à profana. Desperta no crente respeito e até mesmo em alguns o medo. O profano, por sua vez, corresponde ao mundo natural, sendo uma realidade criada.
A crença ou a fé são tomados com frequência como valores religiosos mas não devemos esquecer que correspondem essencialmente e talvez ainda antes, a um tipo de atitude perante o Sagrado. As crenças estão materializadas em mitos hoje em forma escrita ou não, apresentando uma concepção particular do sagrado, definindo os seus poderes e exaltando as suas virtudes.
Tentar racionalizar uma crença é quase sempre destruir sem conseguir compreender, pelo que a opção pelo silêncio em relação a essas temáticas talvez deva ser entendida como respeito.
A crença permitiu ao Homem suportar não apenas sofrimento e injustiças mas também lhe promete uma recompensa após a morte. O que para uns é "ópio do povo", alienação da realidade, para outros transforma o caos num mundo com sentido.
Através dos ritos evocam-se acontecimentos sobrenaturais ligados à origem do mundo e da própria religião. A repetição dos ritos deve-se a uma concepção cíclica do tempo (eterno retorno) sendo uma "actualização" desses acontecimentos: repetem-se gestos e palavras que evocam realizações da divindade, sendo os rituais testemunhos públicos das crenças; ao praticá-los reforça-se a unidade dos crentes e eles próprios se tornam testemunhas desse tempo original.
As comunidades religiosas, sendo comunidades morais, partilham as mesmas normas de conduta, modelos de vida e evitam praticar o "pecado" - em última análise o "afastar-se" das normas divinas. A salvação está pois dependente do cumprimento destas leis.
No ocidente, e em particular na Europa, será inútil negar a dominância na nossa moral da matriz religiosa Judaica-Cristã que, de forma positiva e ou negativa, acaba por orientar as condutas na nossa sociedade.
F.Lopes