"A grande lição, hoje, é recordar o que ainda está por fazer." - O 25 de Abril segundo os filósofos

Os filósofos José Barata Moura e Pacheco Pereira estiveram ambos de acordo: o 25 de Abril foi um golpe e uma Revolução, que derrubou a mais longa ditadura da Europa. Mas enquanto para o primeiro o seu legado está ainda por cumprir, para o segundo o Portugal de hoje mantém ainda muitos aspetos do que foi o antes do 25 de Abril. 
Falavam ambos no painel dedicado a "O que foi o 25 de Abril?", da conferência sobre os 40 anos desta data, organizada pelo Expresso/SIC e Instituto das Ciências Sociais, em parceria com a Fundação Calouste Gulbenkian. 
Para o comunista e ex-reitor da Universidade de Lisboa, "o capítulo que o 25 de Abril inaugurou permanece inacabado e as condições do entrecho continuam - a saga é assentar novas bases ao caminho". E acrescentou: "a grande lição, hoje, é o recordar o que ainda está por fazer". 
Pacheco Pereira, por sua vez, relevou um aspecto que considerou fundamental: o legado da censura no Portugal de hoje e que se expressa naquilo que chamou " a cultura do respeitinho" pelas hierarquias e o medo do conflito e do confronto, que se reflete nos apelos ao consenso ("a obsessão pelo consenso", disse mesmo). 
Não foi pois por acaso que se tratou da mais longa ditadura da História da Europa do século XX: quase três gerações foram moldadas por uma determinada cultura, veiculada pela censura, apostada sobretudo em acentuar a autoridade hierárquica, salientou. 
Para este professor catedrático e membro do Partido Social Democrata, poucos acontecimentos na História de Portugal tiveram uma dimensão de rutura tão acentuada como o 25 de Abril, de "um antes e de um depois" - mas cuja memória afetiva é impossível de transmitir sem ser por efeito da criatividade, no cinema ou na literatura. 
A polícia política (de que pouco se fala), o fenómeno dos retornados, cuja absorção pela sociedade mostra uma plasticidade social hoje em vias de se perder, bem como a guerra, foram outros aspetos salientados por Pacheco Pereira, que fez um paralelo muito crítico com a situação atual. 
No seu entender, nunca como agora se assiste a uma tão grande desvalorização do trabalho, substituído pela ideia de que "salários e ordenados são uma benesse" - afirmou -, ao mesmo tempo que enfatizou a ideia de que o objetivo essencial da política é a melhoria do bem público. "Sem essa relação não existe democracia", disse.
in expresso.sapo.pt