Política, eleições e desejo - por Joaquim Aguiar


"No dia 25 de Maio cada português e cada portuguesa tem na sua mão e numa caneta a possibilidade de concretizar o seu desejo."
António José Seguro, discurso de encerramento da oitava conferência "Novo Rumo para Portugal - um Novo Rumo para a Europa", Lisboa, 15 de Março de 2014.

A democracia precisa de competência política dos que exercem o poder para que estes saibam identificar o que é o seu campo de possibilidades e de informação adequada dos eleitores para que estes saibam avaliar o exercício do poder quando usam a mão e a caneta para afastar do poder aqueles que não mostraram ter competência política. Sem estas duas condições, a democracia transforma-se em demagogia (quando o que prometem é fiado, ou seja, é financiado a crédito) e em infantilismo (quando os eleitores acreditam que basta desejarem para terem, mesmo que o seu voto seja financiado a crédito).
Os eleitores que se deixam prender no mito de Aladino, começam por ser recompensados com a satisfação de todos os desejos, até que a perda da lanterna de Aladino os devolve até à sua pobreza inicial. Tal como no mito, só depois da experiência da crise, quando perderam tudo, podem os protagonistas do mito começar de novo, construindo o possível, depois do arrependimento de terem confiado nos que lhes prometeram o impossível. A democracia de Aladino mostra os três tempos da política: a ilusão do impossível, a realidade da crise, o arrependimento e a vigilância crítica que permitem a reconstrução do possível.
A política portuguesa está condicionada pela realidade da crise, mas o confronto entre a ilusão e o arrependimento não está resolvido. Enquanto assim for, as eleições não servem para realizar os desejos dos eleitores. Só servem para punir os que foram incompetentes e insistem em querer repetir os mesmos erros que produzem as crises.
Joaquim Aguiar in jornaldenegocios