Pagamento em prestígio - Nuno Costa Santos

Hoje, à falta de dinheiro, as pessoas são pagas em prestígio. O prestígio de trabalhar numa determinada empresa. O prestígio – que é como quem diz o privilégio – de ter um emprego. Mesmo assim, há cortes no prestígio (onde é que não os há?). “Quanto é que ganhas de prestígio ao fim do mês?”. “Cada vez menos. E o chefe já me chamou ao gabinete: para o ano ainda vai piorar”. Ainda vamos todos acabar a receber o rendimento mínimo de prestígio.
O pagamento em prestígio apresenta um problema, quem sabe menor: não é fácil pagar a renda e as contas do supermercado em prestígio. Os senhorios e os funcionários do super ainda não aceitam as moedas de prestígio ou o cheque-prestígio. Ainda é necessária aquela coisa do dinheirinho metálico para a sobrevivência das almas. Desagradável.
Pode ser que as regras mudem. Pode ser que acumular prestígio durante uma vida garanta, daqui a uns anitos, uma velhice confortável. Antecipo o comentário de drogaria: “A Dona Laura vive em condições. Todos os meses recebe uma pensão de prestígio que é uma maravilha. Até tem prestígio suficiente para viajar até Viena e Buenos Aires”.
E quanto ao Estados, aqueles que se endividaram ao longo das décadas? Serão, quem sabe, ajudados em tranches de prestígio. Alguns já o serão, na clandestinidade - o prestígio de ir às reuniões com os distribuidores mundiais de prestígio - mas isso, ao que parece, não tem resolvido os problemas. Por enquanto as tranches de prestígio ainda não pagam dívidas. É uma chatice. Talvez um dia.
Nuno Costa Santos