A estética e o valor da natureza

“Tudo se passa como se a natureza [. . .] tendesse em certas circunstâncias a tormar-se humana, como se ela se conformasse por si própria com ideias às quais atribuímos um valor quando se manifestam na humanidade. [...] É que é realmente a própria natureza que aponta para ideias que nos são caras, e não nós que nos projetamos nela [...]. Daí a sensação de que a natureza possui realmente esse valor intrínseco no qual se apoiam os deep ecologists para legitimarem o seu anti-humanismo. Mas, por outro lado, e é nisso que eles falham, são as ideias evocadas pela natureza que lhe dão todo o seu valor. Sem elas, não atribuiríamos o menor valor ao mundo objectivo. [...] Deve-se, assim, fazer justiça ao sentimento de que a natureza não é desprovida de valor, que temos deveres para com ela, sem que seja, no entanto, sujeito de direito."
L. Ferry, Le nouvel ordre écologique. L'arbre, l'animal et l'homme, Paris, Grasset & Fasquelle, 1992, pp. 208-209