Tu, vã Filosofia

Tu, vã Filosofia, embora aviltes
Os crentes nas visões do pensamento, 
Turvo clarão de raciocínios tristes 
Por entre sombras nos conduz, e a mente, 
Rastejando a verdade, a desencanta; 
Nem doloroso espírito se ilude, 
Se o que, dormindo, creu, crê, despertando. 
Até no afortunado a vida é sonho 
(Sonho, que lá no fim se verifica), 
E ansioso pesadelo em mim, que a choro, 
Em mim, que provo o fel da desventura, 
Desde que levantei, que abri, carpindo, 
Os olhos infantis à luz primeira; 
Em mim, que fui, que sou de Amor o escravo, 
E a vítima serei, e o desengano 
Da suprema paixão, por ti cantada 
Em versos imortais, como o princípio 
Etéreo, criador, de que emanaram. 

Bocage, in 'Ao Senhor Joaquim Severino Ferraz de Campos (excerto)