Educação, prova de estafetas!

Em algumas escolas, o arranque do ano letivo foi mais problemático do que em anos anteriores, agravado por uma inovação não testada, a Bolsa de Contratação de Escola (aplicada às escolas que celebraram contratos de autonomia e a escolas inseridas em territórios educativos de intervenção prioritária).
Se, numa primeira fase, o algoritmo e a fórmula de cálculo das graduações estavam erradas, a par da subjetividade de interpretar e responder a alguns subcritérios, numa fase posterior percebeu-se a enorme dificuldade em operacionalizá-la, pois era atribuído ao mesmo professor mais do que um horário, a verificação/validação dos dados dos candidatos eram efetuados na altura, etc. O Ministério da Educação e Ciência (MEC) não cuidou de fazer um teste com a devida antecedência, quase ferindo de morte a legitimidade dos estabelecimentos de ensino definirem um perfil de professor que pretendem para a sua instituição. A partir do momento em que a gestão do processo passou do MEC para as mãos dos diretores das escolas, as colocações em falha fluíram mais rapidamente e a situação foi reposta, embora com dificuldades geradas pelo próprio mecanismo.
Sanado o problema, retirado da agenda mediática, pede-se que permaneça na agenda política de modo a que os erros sejam corrigidos no próximo ano. Se tivessem sido deferidas as reconduções de professores que as escolas propuseram e fossem abertos mais lugares dos quadros, o efeito desta confusão tinha repercussões muito menores, evitando danos patrimoniais no pagamento de horas/aulas de compensação que irão ser ministradas aos alunos.
Mas não devemos esgotar a lição a tirar, relativamente aos professores contratados, antes é nossa obrigação aproveitar a oportunidade para reformar o sistema de colocação de professores e não acharmos normal que, só em finais de agosto, alguns professores tenham conhecimento da localidade em que lecionarão a partir do dia 1 de setembro. O MEC tem obrigação de divulgar as colocações dos professores dos quadros em junho, o mais tardar julho, para que os docentes possam programar as suas vidas com a justa antecedência. Isto exige planeamento estratégico aos nossos responsáveis, mas… não será o mesmo que nos é exigido? Implica que a rede escolar esteja concluída mais cedo e que, por exemplo, a previsão/aprovação das turmas seja decidida atempadamente. Um trabalho colaborativo e programado tirará amargos de boca aos governantes que, em conjunto com os parceiros institucionais (professores, diretores, pais…) e seus representantes, preparará o próximo ano letivo com tranquilidade e imune às vicissitudes do trabalho feito sob pressão.
A falta de confiança nas escolas é outro problema do nosso sistema educativo. A desconfiança nos seus líderes, os diretores, por parte do MEC, afeta o percurso da Educação. Esta carece de sinais exteriores de verdadeira cooperação, que tardam em ser dados por parte dos governantes, ou que são transmitidos quando estes se sentem incapazes de per si, resolver o problema que criaram. O monstro que é o MEC ficaria mais controlado se a confiança nos que lhe estão subordinados fosse um facto. Por que não existe essa confiança?...
A Educação, que não tem dono, deve transformar-se num testemunho transmitido de 4 em 4 anos a outros intervenientes, como se uma corrida de estafetas se tratasse, mantendo as traves mestras, embora suscetível a mudanças ideológicas, que não a desfigurem. É imperativo o entendimento entre as principais forças políticas, até para que o desinvestimento que se prevê no Orçamento de Estado para 2015 na área da Educação, sobretudo no setor público, tenha repercussões menos negativas. Saibamos manter o ritmo e a velocidade nesta corrida, a da Educação, para que a meta inatingível seja cada vez mais apetecida e nos faça retomar o caminho da esperança, aquilo que não podemos perder.
Filinto Lima in Público.pt