Responsabilidade

A responsabilidade é normalmente encarada pelo lado do «mando» ou pelo lado da «culpa». O responsável» tão depressa é o «chefe» como é o «réu», quando não é na mesma pessoa que estas duas funções ambivalentes convergem. Quem se quer des-responsabilizar rapidamente rejeita tanto o ónus de ser chamado à pedra como os galões do posto de comando.
A responsabilidade assoma igualmente sob o ângulo da imputabilidade no que toca a um pedir e a um prestar de contas relativamente a um campo ou domínio de que se detém o encargo. Neste caso, entra na compreensão do conceito de responsabilidade a obrigação simétrica de submeter à apreciação crítica de outrem os poderes de que, de algum modo, se foi (por exemplo, socialmente) incumbido.
No fundo, porém, a responsabilidade tem a ver com resposta. Não apenas segundo a vertente da réplica, em que a um estímulo determinado se segue a competente reacção, mas fundamentalmente no sentido de que a um problema ou situação problemática se encontra quem forneça, e de algum modo protagoniza, um caminho de solução.
A responsabilidade é, assim, a dimensão assumptiva que em contínuo acompanha o dar resposta aos desafios do mundo, próprios e dos outros, de que qualquer percurso vital se tece e entretece.
Um sentido forte de humanidade não dispensa uma presença incontornável de responsabilização. O homem responde pelo feito, e pelo não feito (cadinho das problemáticas da demissão, do alheamento, no limite: da alienação); o fazer do homem é resposta, num viver que o engloba e onde se integra; o homem cria um horizonte de acção (de possíveis) e de respostas para os comportamentos positivos que empreende. Isto é, o viver humano genuíno não ocorre fora do elemento da responsabilidade.
No que toca à educação, é em especial de lembrar que a responsabilidade de ensinar é correlativa da responsabilidade de aprender, sem que – e este é o ponto difícil de fazer vingar – a representação da
medida de uma possa servir de pretexto para um menor empenho no envolvimento com a outra. A educação é, na raiz e de par em par, tarefa humana. E, no campo assim aberto e ocupado, confluem – e por vezes conflituam – actores humanos, dialecticamente assimétricos na variabilidade das suas posições relativas, que fazem dessa relação um percurso de enriquecimento.
Pareço escutar o sussurro do murmúrio céptico: estaremos a sonhar? Não! Isto é o que acontece, mesmo quando acontece mal, ou pior do que gostaríamos que acontecesse.
Leandro da Silva Almeida in cnedu.pt