Comunicar

Acreditar, seja por impulso, simples paixão ou por aturada reflexão, é sempre algo de muito pessoal. Acima de tudo acredito no progresso técnico, social e humano e, como fruto do trabalho e da força das ideias, gosto de o ajudar a construir e ver acontecer. Daí prezar mais o trabalho que a sorte, ócio ou destino e tanto com outros as ideias gostar de debater!
Mas se há coisa que aprecio – ainda mais que entre amigos entrar em acesa discussão, daquelas que nascem e morrem para fortalecer mais união – é pegar num livro, seja de economia ou política (não será o mesmo?) e ao ler, meditar e tentar compreender porque aqui chegámos, por onde andamos e para onde iremos. Estaremos no rumo certo? Teremos connosco a força dos ventos (a confiança dos credores), ou à bolina teremos de continuar a navegar, contra ventos e marés (em contra ciclo), arrostando novas e tremendas tempestades (sob novos resgates)?
Ou, perante um qualquer ensaio ou poesia, sentir em mim e sonhar o que outros experienciaram e daquela forma a tantos transmitiram…Perceber o que terá conduzido alguém – aquele autor – a colocar, num qualquer pedaço de papel, aquelas precisas ideias e reflexões. E mais que as mesmas comigo mesmo debater, ou aceitar sem hesitar, pela justeza dos pensamentos e argúcia dos argumentos, apreciar quem, um certo dia e em determinado lugar, ao escrever algo de si legou à comunidade, para a posteridade.
O que será que os motiva, que dos mesmos tanto esforço exige, a tanta entrega obriga e que de todos consente tão íntima e profunda exposição? Se para falar basta um impulso e a convicção do momento, pois “palavras leva-as o vento”, sem esquecer que com simples olhar, ao captar a reação de quem nos escuta, se estabelece instantânea comunicação, já ao escrever, deixando para sempre exposta à análise doutros algum pensamento, é preciso aceitar incorrer, por ausência imediata de interlocutor, em imperfeita comunicação, pelo que a motivação do escritor é diversa da que impulsiona o orador.
Será talvez a necessidade de partilhar. Mais que conhecimento, partilhar aquilo em que se acredita, na esperança de comunicar, mesmo com dúvidas e incertezas! Pela certeza de que sendo todos iguais, só quando sem preconceitos abrimos a alma e partilhamos, estamos a construir e progredir. Pessoalmente e em grupo. Em conjunto e solidariamente! Sempre! Por muito que o tempo e circunstâncias várias tudo mudem e alterem a justeza do que pensamos, e por vezes em dúvida coloquem, ou desdigam mesmo aquilo em que hoje tanto acreditamos.
Comunicar e partilhar serão consequência de pertencer. A um espaço, clube ou comunidade. A uma qualquer ideologia ou religião. Povo ou Nação. Seja ao que for, mas pertencer! É natural, é mais que humano, já que outros seres também partilham e comunicam, porque pertencem.
Qualquer comunidade, para vencer ou sobreviver, precisa de se unir e saber comunicar. Será instinto, resistência, sobrevivência, ou quem sabe se não será a própria essência do Ser. Por isso acreditar que, como Povo e Nação, saberemos comunicar e assumir compromissos que reforcem a união e nos assegurem um futuro melhor e mais solidário. Não estamos em tempo de Natal?!
Gil Patrão in asbeiras.pt