
As nossas crenças são justificadas se temos boas razões que sustentem o seu conteúdo. Mas há uma diferença entre verdade e justificação. A minha crença de que amanhã vai chover pode ser justificada — pode, por exemplo, provir de uma fonte fiável — e no entanto acabar por ser falsa. A justificação não garante a verdade. Por outro lado, posso ter uma crença verdadeira, como por exemplo que o meu vizinho é um espião, sem ter a mínima prova que a apoie. O que eu acho ou o que neste caso o meu instinto me disse, coincidiu por acaso com algo que é verdade, mas a minha crença não é justificada.
Há pelo menos duas razões para nos interessarmos pelas crenças justificadas. Primeiro, por vezes a verdade não chega. Termos uma justificação para as nossas crenças torna mais fácil convencer os outros da sua verdade. No tribunal, por exemplo, o que eu acho e o meu instinto me diz não contam. É preciso provas de que o acusado é culpado ou de que não houve crime. Segundo, é mais provável que, desde que coerentemente organizadas, as nossas crenças justificadas ofereçam uma explicação satisfatória para os fenómenos por que nos interessamos. Dificilmente valorizaríamos um conjunto aleatório de crenças verdadeiras, mas se tivermos fundamentos para elas, é mais provável que vejamos as ligações entre elas e que delas retiremos outras implicações, o que potencialmente alarga o conhecimento.
Por vezes, os sistemas de crenças coerentemente organizados formam teorias. Formamos teorias em contexto muito diferentes, não apenas no contexto das disciplinas científicas formais. Temos teorias sobre toda uma variedade de coisas: por exemplo, sobre como ser bem-sucedido nas entrevistas de emprego, sobre o que originou a tensão no Médio Oriente, sobre o motivo por que John Grisham vende tantos livros.
Lisa Bortolotti in Introdução à Filosofia da Ciência