O nascimento da Filosofia

Alguns chamaram-lhe “o milagre grego". No elogio desse "milagre", ultrapassou-se muitas vezes o limite de uma compreensão e avaliação histórica equilibradas com o pretexto de fazer ressaltar o carácter excepcional deste período (com o auge no séc. V a.c.). Isolado de toda a continuidade do desenvolvimento histórico e negando as contribuições de outras culturas o surgir da Filosofia de facto parece ser inexplicável: abandonar um pensamento mítico - e portanto monista - e iniciar um pensamento pluralista nas suas formas de inteligibilidade, um pensamento com uma lógica pré-científica, é revolucionário:
«Os primeiros passos da civilização grega foram dados exactamente - facto significativo - nas colónias da Ásia menor, onde o contacto directo e indirecto com os povos mais adiantados do Oriente estimulou as energias criadoras do génio helénico, que logo afirmaram o seu poder maravilhoso, superando rapidamente toda a criação das culturas predecessoras». ( MONDOLFO, Rodolfo, O Génio Helénico) É a partir de um pensamento "positivo" (um pensamento que exclui o sobrenatural como explicação de todos os fenómenos) e, simultaneamente, de um pensamento abstracto, (que tende a abandonar explicações da ordem do particular no que respeita ao mundo real) que vai nascer a Filosofia das "escolas naturalistas" e a partir daí estão definidas as raízes do pensamento ocidental.
Para tudo isto contribuiram as transformações sociais e políticas que antecedem o século V a.c.: a facilidade e libertação que o uso generalizado da moeda trouxe; o calendário e a escrita alfabética que se uniformizaram; o papel da navegação e do comércio em simultâneo com a expansão grega; a criação de um sistema democrático que permite a participação dos cidadãos; a recolha e sistematização nas áreas da matemática e geometria e o "choque" civilizacional que tudo isto proporciona, transformam o espírito dos gregos, favorecendo o abandono de "esquemas míticos e antropomórficos" em favor de interpretações "mecanicistas" e "instrumentalistas" do Cosmos.
No plano técnico a Grécia nada inovou: o Oriente, nesse domínio, deu lições ao "mundo". Por seu turno o Oriente, apesar da sua inteligência e técnica, nunca construiu uma filosofia verdadeiramente racional. 
Nota: na ligação que em cima recomendo, de nome "escolas naturalistas", existe um erro ortográfico que deverão ignorar. Na segunda frase aparece escrito "Há semelhança de Sócrates..." quando deveria estar escrito "à semelhança de...". 
Deveria usar-se "Há", se a frase dissesse que "existe uma semelhança com Sócrates..."; ora pelo sentido percebe-se que quer dizer "tal como com Sócrates", sendo correcto portanto escrever "à semelhança de Sócrates".
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F.Lopes