Interpretações erradas dos processos científicos

EQUÍVOCO: A ciência é uma colecção de factos.
CORRECÇÃO: Como as aulas de ciências por vezes se baseiam em livros maçudos, é fácil pensar que a ciência é só isso: factos num livro de texto. Mas isso é apenas parte da imagem. A ciência é um corpo de conhecimento que se pode aprender em livros de texto, mas também é um processo. A ciência é um processo excitante e dinâmico para descobrir como funciona o mundo e construir estruturas poderosas e coerentes com base nesse conhecimento.

EQUÍVOCO: A ciência é completa.
CORRECÇÃO: Uma vez que muito do que é ensinado nos cursos introdutórios de ciências é conhecimento que foi construído nos séculos XIX e XX, é fácil pensar que a ciência está terminada — que já descobrimos a maioria do que há a saber sobre o mundo natural. Isso está longe de estar correto. A ciência é um processo contínuo, e há muito mais a aprender sobre o mundo. De facto, na ciência, fazer uma descoberta crucial leva frequentemente a que muitas novas perguntas apareçam, prontas para serem investigadas. Além disso, os cientistas estão constantemente a elaborar, aperfeiçoar e rever as ideias científicas estabelecida, com base em novas evidências e perspectivas.

EQUÍVOCO: Há um único Método Científico que todos os cientistas seguem.
CORRECÇÃO: "O Método Científico" é frequentemente ensinado em cursos de ciência como uma forma simples de compreender os conceitos básicos de testes científicos. De facto, o método científico representa a forma como os cientistas costumam escrever os resultados dos seus estudos (e como algumas, poucas, investigações são realmente feitas), mas é uma representação muito simplificada de como os cientistas geralmente constroem conhecimento. O processo da ciência é emocionante, complexo e imprevisível. Envolve muitas pessoas diferentes, envolvidas em muitas actividades diferentes, em muitas áreas diferentes.

EQUÍVOCO: O processo da ciência é exclusivamente analítico e não envolve criatividade.
CORRECÇÃO: Talvez porque o Método Científico apresenta uma representação linear e rígida do processo da ciência, muitas pessoas pensam que fazer ciência é seguir de perto uma série de passos, sem espaço para a criatividade e inspiração. De facto, muitos cientistas reconhecem que o pensamento criativo é uma das competências mais importantes que eles têm — independentemente de a criatividade ser usada para chegar a uma hipótese alternativa, para elaborar uma nova maneira de testar uma ideia, ou para olhar para dados antigos a uma nova luz. A criatividade é fundamental para a ciência!

EQUÍVOCO: Quando os cientistas analisam um problema, eles têm que usar raciocínio indutivo ou dedutivo.
CORRECÇÃO: Os cientistas usam modos de raciocínio diferentes em momentos diferentes — e por vezes ao mesmo tempo — quando analisam um problema. Eles também usam a sua criatividade para chegar a novas ideias, explicações e testes. Isto não é uma escolha entre indução e dedução. A análise científica muitas vezes envolve saltar entre diferentes modos de raciocínio e pensamento criativo! O que é importante sobre o raciocínio científico não é os nomes dos diferentes modos de raciocínio, mas o facto de que o processo científico depende de uma consideração lógica cuidada de como a evidência apoia ou não apoia uma ideia, de como ideias científicas diferentes estão relacionadas uma com a outra, e do que poderemos esperar observar se uma determinada ideia for verdadeira. 

EQUÍVOCO: As experiências são uma parte necessária do processo científico. Sem uma experiência, um estudo não é rigoroso ou científico.
CORRECÇÃO: Talvez porque o Método Científico e representações populares da ciência realçam a realização de experiências, muitas pessoas pensam que a ciência não pode ser feita sem uma experiência. Na verdade, existem muitas maneiras de testar praticamente qualquer ideia científica; a experimentação é apenas uma delas. Algumas ideias são melhor testadas através da criação de uma experiência controlada em laboratório, algumas são melhor testadas fazendo observações detalhadas do mundo natural, e outras ainda com uma combinação de estratégias.

EQUÍVOCO: As ciências "duras" são mais rigorosas e científicas do que as ciências "soft".
CORRECÇÃO: Alguns cientistas e filósofos têm tentado traçar uma linha de separação entre as ciências "duras" (por exemplo, química e física) e as "soft" (por exemplo, psicologia e sociologia). A ideia é que a ciência dura utiliza métodos quantitativos e mais rigorosos que a ciência soft, e por isso é mais digna de confiança. Na verdade, o rigor de um estudo científico tem muito mais a ver com a abordagem do investigador do que com a disciplina. Muitos estudos de psicologia, por exemplo, são cuidadosamente controlados, dependem de amostras de grande tamanho, e são altamente quantitativos. 

EQUÍVOCO: As ideias científicas são absolutas e imutáveis​​.
CORRECÇÃO: Como os livros de texto mudam muito pouco de ano para ano, é fácil imaginar que as ideias científicas não mudam nada. É verdade que algumas ideias científicas estão tão bem estabelecidas e são apoiadas por tantas linhas de evidência, que não são susceptíveis de ser completamente rejeitadas. No entanto, mesmo essas ideias estabelecidas estão sujeitas a modificações com base em novas evidências e perspectivas. Além disso, na investigação científica de ponta — áreas de conhecimento que são difíceis de representar em livros de texto introdutórios — as ideias científicas podem mudar rapidamente à medida que os cientistas testam diversas explicações possíveis tentando descobrir quais são as mais precisas.

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