O culto da incompetencia - Émile Faguet

“O povo gosta que os seus eleitos se lhe assemelhem, que tenham os sentimentos e as paixões populares. Porém governar é uma arte e pressupõe uma ciência; mas, a representação do país, está reservada aos incompetentes, representação que tudo quer fazer e faz tudo mal, governando, administrando e espalhando a incompetência e a paixão no governo e na administração. Assiste-se hoje ao espectáculo de um povo governado por homens sem arte nem ciência, escolhidos precisamente por essas qualidades negativas.Homero dizia que Zeus, fazendo do homem um escravo, lhe tirava metade da alma; nós diremos que Dêmos, fazendo de um homem um político, tira-lhe toda a alma, e que, não o fazendo político, comete o erro de lha deixar. O regime, no fundo, é isto: os deputados espalhando favores para serem eleitos e reeleitos; os eleitores influentes pondo a sua influência, quer pessoal, quer de funcionários, ao serviço dos deputados para obterem favores, e fazendo uns e outros um bloco para defesa dos interesses comuns. O culto da incompetência é como uma nódoa de azeite; propaga-se por contágio, sendo bastante natural que, sendo endémico, seja também epidémico, e que, encontrando-se no centro e núcleo do Estado, isto é, na constituição deste, se transmita e alastre nos hábitos e costumes do país.”
in O culto da incompetencia - Émile Faguet