Valorar

"Hoje nenhum filósofo minimamente lúcido diria que a lei moral está inscrita na razão ou no coração de cada um, mas antes que está escrita na tradição, na história ou na linguagem. O que não equivale a dizer que em ética vale tudo ou que tudo é relativo. Nem tudo são desacordos em ética: há valores básicos, escolhidos pela declarações de direitos humanos, valores que são universais só porque são abstractos. Ou porque são formais e carecem de conteúdos mais precisos. A autonomia passa pela aceitação do formalismo moral e consiste, exactamente, na vontade de o manter. Procurar ser autónomo, numa tal perspectiva, não é recusar o marco de valores absolutos: a igualdade, a liberdade, a solidariedade, a paz. É aceitar esses valores - fora dos quais não seria capaz de dizer o que é a ética - e propor-se seriamente realizá-los. Como? Procurando ver, na medida das possibilidades e responsabilidades de cada um, como se deve actuar, aqui e agora, de modo a contribuir para que o mundo em que vivemos seja mais humano."
Victoria Camps. In: Paradoxos do individualismo, Relógio D'Água.LIsboa 1996.p.27