Educação: Dermeval Saviani vs. Jacques Delors

Dermeval Saviani vs. Jacques Delors : Duas visões antagónicas para a educação, uma de combate, de transformação social, de emancipação, a outra de submissão, de ignorância, de perpetuação da baixa qualificação.
A Ph-c é a denominação dada pelo filósofo e pedagogo marxista Dermeval Saviani, a partir de 1984, a uma proposta pedagógica que visava superar a contraposição que se pôs no campo educacional entre pedagogia tradicional e pedagogia nova, em que a pedagogia tradicional aparecia como sendo conservadora e a pedagogia nova aparecia como progressista e avançada, como respondendo às necessidades do Mundo actual. Para Saviani a pedagogia nova – que hoje se transmutou na pedagogia do «aprender a aprender» – é uma pedagogia conservadora porque está articulada com os interesse da burguesia, que visam manter as relações sociais de produção vigentes.
A PHc parte da visão crítica que se construiu na década de 70 que denunciava a educação como estando ao serviço dos interesses dominantes: Althusser (A teoria da escola enquanto aparelho ideológico do Estado); Bourdieu/Passeron (A teoria do sistema de ensino enquanto violência simbólica) e de Baudelot/Escabelet (A teoria da escola dualista). Mas defende que estas teorias são limitadas porque fazem a crítica da educação vigente para chegar à conclusão que não é possível uma educação transformadora, que a educação necessariamente está comprometida com a sociedade em que se instala.
Já tínhamos visto Ana Benavente, David Justino e Maria de Lurdes Rodrigues falar das pedagogias do aprender a aprender; dos conhecimentos transversais, da escola como prolongamento da família. O que ainda não sabíamos – mas suspeitávamos – é que estas teorias, que cá aparecem como produto do pensamento intelectual elaborado por ministros e cientistas da educação, tinham sido pensadas por Jaques Delors.
Jaques Delors explica no seu relatório, que foi adaptado a todos os países: «Como o conhecimento é múltiplo e evolui infinitamente, torna-se cada vez mais inútil tentar conhecer tudo e, depois do ensino básico, a omnidisciplinaridade é um engodo.» O relatório não esconde por que é que acha que não se pode aprender – a escola tem que se adaptar ao mercado de trabalho, neste caso, à era pós-fordista. O trabalho, diz o relatório, é «incerto» e por isso uma das principais funções da escola não é especializar e preparar os alunos para um determinado trabalho, antes prepará-los psicologicamente para sofrerem e adaptarem-se permanentemente à mudança de emprego e ao desemprego: «Existe uma questão comum aos países desenvolvidos e em desenvolvimento: como aprender a comportar-se, eficazmente, numa situação de incerteza, como participar na criação do futuro?» O relatório vai mais longe e instiga os professores a ensinarem aos alunos como se comportarem quando atendem clientes na área dos serviços: «As consequências sobre a aprendizagem da ‘desmaterialização’ das economias avançadas são particularmente impressionantes se se observar a evolução quantitativa e qualitativa dos serviços (…). O desenvolvimento dos serviços exige, pois, cultivar qualidades humanas que a formação tradicional não transmite necessariamente e que correspondem à capacidade de estabelecer relações estáveis e eficazes entre as pessoas». E para que não haja dúvidas sobre esta divisão proposta, o relatório di-lo: «O que pode ser uma oportunidade para os não diplomados, ou com deficiente preparação em nível superior. A intuição, o jeito, a capacidade de julgar, a capacidade de manter.
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