Em nome dos pais?

Os pais são os actores principais na educação dos filhos e as associações de pais devem ter um papel central na actividade da escola.
Uma das consequências da precarização das relações laborais e perda de direitos dos trabalhadores é a pouca disponibilidade para participação na escola dos filhos e, consequentemente, nas respectivas associações. As associações de pais perdem capacidade de reflexão e intervenção sobre a educação dos seus filhos e transformam-se em produtores dos eventos possíveis no quadro das disponibilidades de alguns pais.
Estas dificuldades explicam a pouca qualidade das posições públicas e políticas da organização que federa uma parte considerável das associações de pais. Sem qualquer vontade de semear movimento associativo ou discutir os problemas dos pais, filhos e ensino em geral, as sucessivas direcções da CONFAP vão-se preocupando em não perder os convites para tomar chá nos ministérios, parlapateando na comunicação social ideias peregrinas dos seus dirigentes.
Só assim se pode compreender o seu apoio aos exames nacionais ou a mais recente intervenção do presidente Jorge Ascensão, postulando a diminuição do período de férias de Verão para um mês, nos seguintes termos: “Começo a recear que as escolas tenham mais pausas do que aulas. Toda a gente se queixa de que os programas são extensos e os alunos não têm tempo para aprender e tirar dúvidas. É preciso tempo.”
Mas não se pense que uma ideia tão absurda – imagine-se um país em que os trabalhadores com filhos no ensino básico e secundário só podiam tirar férias em Agosto – resulta de inexperiência política. Ascensão fez carreira nas direcções do quase-perpétuo Albino Almeida e ainda em 2013 tentava ser candidato a vereador nas listas de Valentim Loureiro em Gondomar.
Em nome dos pais e à custa de um movimento associativo propositadamente débil, a CONFAP vai podendo declarar os maiores disparates, ignorando os gravíssimos problemas e desafios que se colocam às escolas e perpetuando direcções instrumentalizadas pelo poder vigente. Até quando?
Tiago Mota Saraiva in ionline.pt