"Um país que desperdiça os seus melhores está completamente perdido!"

A parcela de investimento público que Portugal destina à ciência e tecnologia é de 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB). Carlos Fiolhais, investigador da Universidade de Coimbra, na área da Física, defende que a dotação pública para o sector “devia duplicar” para ir ao encontro dos objectivos fixados pela União Europeia. 
Até 2020, Bruxelas quer atingir a média dos 3% de investimento público na área do conhecimento e da ciência, mas, do lado português, Carlos Fiolhais nota que há “falta de vontade política”, apesar de Portugal “ter assinado esses acordos europeus”. O professor diz que “assinar só não chega, é preciso planear uma estratégia para que assim seja”. 
Caso contrário, alerta o investigador, “vamos continuar a ter uma descontinuidade entre o mundo da ciência e o mundo real, das empresas, da sociedade”. Tudo resumido numa ideia simples: falta cultura científica em Portugal. E isso “não se resolve apenas pedindo mais dinheiro”. 
É preciso demonstrar que “aquilo que os cientistas fazem é útil para a sociedade e essa ligação entre ciência e sociedade tem de ser fortalecida”. 
Os anos da crise ditaram “um recuo evidente” na política de consolidação da ciência e da investigação “que vinha a ser seguida nas duas últimas décadas”. Foi o tempo necessário para que os investigadores formados em Portugal perdessem a confiança no país, “sobretudo pela falta de perspectivas quanto a uma carreira estável e remunerada de acordo com a formação de excelência destes profissionais”. 
“Esse é o drama maior”, afirma o investigador da Universidade de Coimbra. As estatísticas oficiais revelam que 100 mil portugueses emigram anualmente. Quantos desses são doutorados ou mestres? “Provavelmente, não serão a maior parte, mas são em número significativo. Isso deve preocupar-nos”. 
Se o cenário não for invertido, dificilmente os cérebros em fuga regressam a Portugal. Perde-se capital humano, e o país perde qualquer hipótese de obter retorno do investimento na formação destes cientistas. 
“E um país que desperdiça os seus melhores, está completamente perdido”, conclui Carlos Fiolhais. 
Este é o assunto central do encontro nacional de cientistas que vai decorrer durante todo o dia no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. A iniciativa é da Associação Portuguesa de Sociologia à qual se juntaram outras associações dos ramos científico e das ciências sociais e humanas.
in rr.sapo.pt