Aprender Filosofia ou a Filosofar?

"Em poucas palavras, [o aluno] não deve aprender pensamentos, mas aprender a pensar; não se deve levá-lo, mas servir-lhe de guia, se se pretende que no futuro ele seja capaz de caminhar por si mesmo. É uma maneira de ensinar deste tipo que exige a natureza peculiar da filosofia. Dado, porém, que esta é propriamente uma ocupação apenas para a idade adulta, não é de admirar que surjam dificuldades quando se quer adaptá-la às capacidades não exercitadas da juventude. O adolescente que saiu da instrução escolar estava habituado a aprender. Agora, ele pensa que vai aprender filosofia, o que é, porém, impossível, porque agora ele tem de aprender a filosofar. (...) Assim, o autor filosófico que serve de base para a instrução deve ser considerado não como um modelo do juízo, mas simplesmente uma oportunidade para cada qual pronunciar um juízo sobre ele, ou mesmo contra ele; e o método de refletir e concluir por si mesmo é aquilo cuja prática o estudante essencialmente procura, o que, aliás, é a única coisa que lhe pode ser útil, e os juízos firmes que eventualmente tenha adquirido devem ser considerados como corolários contingentes, para cuja rica profusão ele apenas tem de plantar em si as fecundas raízes”.
KANT, Immanuel, "Curso do Semestre de Inverno de 1765-1766",  in Filosofia, Vol II, 1 e 2, pp. 174-175.