Paradoxos da liberdade

Paradoxo 1 – É por ser determinado que o comportamento pode ser livre.
Soa estranho? Mas pense por um instante. Seríamos mesmo livres se as nossas acções tivessem sempre consequências aleatórias? É por conseguir inferir, deduzir, estimar como é que as consequências das nossas ações determinarão o mundo que podemos dizer-nos livres. Portanto, o determinismo constitui parte integrante da liberdade.

Paradoxo 2 – Sentir-se livre pode ser um sinal de escravidão.
Aqui Skinner pode ser útil para identificar relações de controlo que nos passavam desapercebidas. Destruidor das nossas ilusões de liberdade, da mesma forma que um médico pode destruir a nossa crença errónea de que estamos saudáveis, Skinner figura como um crítico de noções primitivas de liberdade tais como: “sei que sou livre porque faço o que gosto, o que bem quero”.
Esta concepção subjectivista de liberdade é problemática do ponto de vista científico. Afinal, como é que o sujeito sabe que aquilo de que gosta não foi condicionado historicamente até mesmo contra a sua vontade? Como diferencia um desejo seu de um desejo enxertado nele por outros?
Um vago “sentimento de liberdade” não é o mesmo que “liberdade”. Deve haver condições mais objetivas para qualificar alguém ou algo como livre. Mas quais? 

Paradoxo 3 – Quanto mais opções para escolher, menos liberdade.
Suponhamos que tem a possibilidade de escolher entre diversos sabores de sorvete assim que entra numa gelataria. Essa variedade de sabores é sinal de liberdade? Quase todos dirão que sim. Mas note que a questão foi colocada da seguinte forma: “precisa de escolher”.A verdadeira liberdade seria poder escolher não escolher, ou criar outras opções diferentes daquelas pré-programadas. Se a “liberdade de escolher dentre opções possíveis” for toda a liberdade que nos resta, então na verdade estamos apenas sendo controlados pela pessoa que programa as escolhas possíveis.
As nossas escolhas, nesse tipo de situação, não são aleatórias: a opção será tão provável de ser escolhida quanto o valor reforçador dela. Ou seja, para o controlador seria apenas uma questão de arranjar a distribuição de reforço para induzir determinada escolha.

Paradoxo 4 – Nem todo o controlo positivo é assim tão positivo.
Para muitas pessoas liberdade é não ser coagido a fazer algo, seja por ameaças e manipulações morais, seja por uso da força propriamente dita. Assim sendo, se a sociedade usasse mais sistemas de incentivos baseados em recompensas e menos em multas então seríamos mais livres. Daí surgem algumas noções de sociedade ideal como sendo aquela sem nenhum tipo de coerção, mas apenas controlo por reforço positivo. Tal utopia, mesmo que realizável, criaria mesmo uma sociedade mais justa? Talvez não.
O incentivo baseado em recompensas, como dinheiro, amor, sexo, etc, pode ser altamente satisfatório, mas pode também gerar apenas escravos sorridentes. Não é porque um ambiente recompensa mais do que pune, que ele é mais livre. Por vezes uma relação de poder onde todos acabam sorrindo satisfeitos esconde as mais anti-éticas formas de manipulação.

Paradoxo 5 – A Liberdade é uma forma de controlo.
Se entender que a liberdade depende de determinismo pra existir (Paradoxo 1) é estranho, então mais ainda será a “Liberdade é uma forma de controle”! Diz-se que alguém é livre quando essa pessoa consegue efetivamente controlar a sua própria vida. Mais que isso. Quando essa pessoa também consegue "contracontrolar" tentativas alheias de coação, manipulação, punição, etc. Por outras palavras, quando ela consegue ultrapassar relações de poder insatisfatórias e estabelecer outras mais reforçadoras. Como disse Skinner, “sou livre na medida em que controlo as condições que me controlam”.

Paradoxo 6 – Um mundo onde todos controlam todos é o mais livre dos mundos.
Se o poder económico, social, moral, seja qual for, fosse bem distribuído, ao ponto de todos puderem influenciar as decisões de todos, e todos pudessem contrariar as influências de todos, então viveríamos num mundo livre de facto. Essa ideia implica que a liberdade só é possível numa sociedade em que as “agências de controlo” não sejam controladores centrais que vivam “livres”; elas mesmas precisam de ser controladas. Uma sociedade onde cada um faz o que bem entende, sem precisar seguir regras para o convívio com os outros, de forma alguma é livre!

Conclusões
“Como sabemos se alguém é livre?” Talvez essa não seja a melhor pergunta. Afinal ninguém é livre sozinho, se essa liberdade é sempre determinada e ocorre num ambiente social. Talvez a melhor pergunta seja: “Como saberemos se uma sociedade é livre?”
Separei alguns indicadores de liberdade numa sociedade que podem ajudar a responder a essa questão. Uma sociedade é livre a medida em que possui…
1) um mínimo de controle aversivo, de coações e de pessoas que tentam controlar outras de forma autoritária.
2) muitas escolhas reforçadoras disponíveis. Inclusive a escolha de não precisar de escolher.
3) oportunidades abundantes de "contracontrolo". Cada indivíduo pode criar uma opção diferente daquela planeada para seguir.
4) incentivo ao autocontrolo, à autonomia do indivíduo. Isto é, espera-se que as pessoas ajam de acordo com o que é melhor para elas mesmas.
5) regras que façam com que as relações de poder sejam pulverizadas, distribuídas ao maior número possível de pessoas. Trata-se do poder de cada indivíduo como decisor no conjunto da população.
Adaptado a partir de liberzone.com.br