A ética não é uma questão de “marketing”

Neste mundo global, acentuam-se os sinais exteriores de uma crescente erosão de valores e de princípios. Por vezes, a tão apregoada ética não passa de uma espécie de uma porosa “pedra-pomes”. Isso nota-se na deficiente conjugação entre direitos e deveres, no enfraquecimento do sentido de responsabilidade, na rarefacção da decência, autenticidade e exactidão, na desvalorização do valor da verdade, na volatilização da respeitabilidade pelo esforço, mérito e experiência, substituída pelo prémio da esperteza, amiguismo, oportunismo e até da vacuidade travestida de tecnocracia.
Esta diluição ética tende a igualizar, moralmente, fins e meios, a amolecer as consciências, a fazer germinar e propagar a indiferença, a promover a estatística à categoria de mãe de todas as análises frias e mecânicas.
A ética não é uma questão de “marketing” ou de moda, nem se aligeira por uma qualquer preposição adversativa. Se, na política (e não só) às vezes basta parecer, na ética é imperativo ser.
Mas nunca se deve confundir a ideia da ética com a ideia da moralidade. Ética (da primeira pessoa) é cada um confrontar-se com o seu dever. Moralidade (ética da terceira pessoa) é cada um ocupar-se com o dever dos outros. Muitos pregam a dita moralidade para o outro e esquecem o exemplo e a autenticidade dos valores quando se trata de praticarem o que aos outros exigem.
Em síntese, dêem-se as voltas que se derem, não há “soluções técnicas” para “défices éticos”. Sob pena de recidivas cada vez mais dolorosas…
A. Bagão Félix in blogues.publico.pt