Ética ambiental: uma ruptura com o antropocentrismo

Aldo Leopold e a Ética da Terra: para uma nova relação entre o homem e a natureza.
À ideia de domínio e controle humanos sobre os recursos naturais, que alimentou o paradigma tecnocientífico da Modernidade Clássica, corresponde uma visão antropocêntrica da relação que o homem estabeleceu com a natureza. A natureza é um simples instrumento subordinado aos fins humanos. Vimos já que Beck considera que este factor contribuiu para a desmistificação da incontestabilidade da racionalidade tecnológica na Modernidade Clássica e é uma das características que marcam a passagem à Modernidade Reflexiva. A ética ambiental, uma área da filosofia relativamente recente, pretende colocar um fim a esta ideia que a Modernidade nos legou e pensar a possibilidade de uma nova ética que atribua valor moral ao meio natural e à relação que mantemos com ele. Curiosamente este apelo não proveio do meio filosófico, mas sim de um engenheiro florestal americano, de seu nome Aldo Leopold. O seu breve ensaio, “The Land Ethic” provou ser uma inspiração para a formação da ética ambiental enquanto campo de reflexão por direito próprio no início da década de 1970. Neste ensaio, Leopold dá-se conta de que «Não existe ainda uma ética que pense a relação do homem com a terra, com os animais e plantas que nela crescem». A relação que o homem mantém com o meio natural é estritamente económica, feita de privilégios e não de obrigações. É não só fundamental como ecologicamente necessária uma alteração na relação entre o homem e o meio natural. O objectivo da ética da terra proposta por Leopold pretende não só reflectir o impacto humano sobre o meio natural, como também dotá-lo de entidade moral, alargando a esfera da ética, até então única e exclusivamente centrada no ser humano. Ou seja, nas palavras do próprio Leopold, a ética da terra «[…] alarga simplesmente as fronteiras da comunidade para incluir os solos, as águas, as plantas e os animais, ou colectivamente: a terra». A ampliação da comunidade ética ao meio natural implica também uma recusa do antropocentrismo que sempre orientou o homem na sua relação com o meio natural: a ética da terra, segundo Leopold, altera o papel do homem de conquistador da natureza para simples membro integrando a comunidade natural com os outros seres vivos. 
Não apenas detentor de direitos, o homem passa a ter também deveres morais para com a comunidade natural. Entre os novos valores a cultivar estão os de respeito e de cuidado para com a comunidade biótica enquanto tal. Podemos ver o quanto as ideias propostas por Aldo Leopold no seu pequeno, mas influente ensaio se incompatibilizam com um modelo económico e tecnocientífico que faz da exploração dos recursos naturais o seu porta-estandarte. O grande mérito de Leopold, a quem faltava a formação filosófica para poder ir mais longe, foi o de ter aberto caminho para que outros, na sua esteira, levassem por diante as ideias por si traçadas e as problematizassem de forma mais profunda. Algo que Hans Jonas irá fazer, ao propor um outro conceito fundamental para uma nova relação ética com a natureza: o conceito de responsabilidade.
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