O problema dos universais em Platão

Na sequência da filosofia do orfismo e dos pitagóricos que influenciou grande parte dos filósofos pré-socráticos, Platão referiu-se à teoria das Ideias ou das Formas a que faz referência, nomeadamente, na Alegoria da Caverna da última parte da “República”. Segundo ele, os objectos individuais ou particulares do mundo sensível pertencem, na sua multiplicidade, a um género que os integra em uma Forma ou Ideia de origem divina ou — se quiserem evitar uma linguagem metafísica tradicional — com origem no Além-espaço-tempo. Não só eu partilho desta teoria de Platão, como a teoria quântica moderna lhe dá alguma razão, como adiante será demonstrado.
A oposição a Platão começou com os Cínicos quando diziam a Platão que “eu vejo um cavalo, e não a cavalidade”. Mais tarde, Roscelino (o primeiro filósofo da escolástica medieval) dizia que os universais eram flatus vocis (sopros da voz) porque era apenas nomes (e daí o termo “nominalismo”) e etiquetas graças às quais podemos representar as classes de coisas individuais. Secundado por Guilherme de Occam, defendia que as ideias gerais não têm um objecto geral, mas antes são abstracções obtidas por intermédio da linguagem. Portanto, para os nominalista não existia a cavalidade, mas apenas cavalos diferentes e entendidos de forma individual.A essas formas ou ideias, Platão chamou de “universais” que eram anteriores (ou a causa) às coisas individuais. Aristóteles tem duas concepções diferentes sobre esta matéria: uma quando ele próprio pensa a sua filosofia, e outra quando critica Platão.
Este conceito foi mais tarde corroborado por Leibniz na teoria da “identidade dos indescerníveis”, segundo a qual é impossível que duas coisas sejam totalmente iguais — o que é falso; a teoria quântica demonstra que duas ondas quânticas são de facto idênticas, ou seja, as ondas quânticas que são a base da “construção” da matéria — a onda quântica é a pré-matéria — não se distinguem, de modo nenhum, umas das outras.
Em resumo: os nominalistas dizem que aquilo que existe na realidade e que pode ser predicável, é o mundo sensível e as suas coisas ou objectos. Tudo o que não pertence ao mundo sensível é produto da lógica que por sua vez é gerada pela linguagem. “Um universal é apenas um sinal” — no sentido de símbolo ou signo — “de muitas coisas”, diz Occam. Quando dizemos “o Homem”, o substantivo colectivo é apenas o símbolo lógico e linguístico de todos os homens entendidos individualmente. Para Occam, “a compreensão é de coisas, não de formas produzidas pelo espírito”. Occam refere-se ao espírito, e não à consciência; o espírito é aqui entendido como a variante cristã da alma grega. Para ele, as formas não são “coisas”, no sentido em que comummente compreendemos as “coisas”, mas são antes as “coisas em si”, pelas quais as “coisas” se compreendem a si mesmas — vem daqui a origem da “coisa em si” de Kant.
in felipepimenta.com