Democracia e cinismo

“Observou-se com frequência que o resultado a longo prazo mais seguro da lavagem do cérebro é um género particular de cinismo – uma recusa absoluta de acreditar na verdade na verdade de qualquer coisa, por mais bem estabelecida que possa estar essa verdade. Por outras palavras, o resultado duma substituição coerente e total de mentiras à verdade de facto não é as mentiras passarem a ser aceites como verdade, nem que a verdade seja difamada como mentira, mas que o sentido através do qual nos orientamos no mundo real – e a categoria da verdade relativamente à falsidade conta-se entre os recursos mentais para prosseguir esse objectivo – fique destruído.” (H. Arendt, "Verdade e Política". Em Entre o passado e o futuro: oito exercícios sobre o Pensamento Político).
 A revolta contra a falsidade, contra o mundo das mentiras, indica o primeiro acto de liberdade. Neste caso, a liberdade é a vida dentro da verdade, uma revolta contra o inautêntico, contra o próprio medo do sistema, assumindo responsabilidades, que não é senão assumir o “eu” contra a falsa identidade imposta pelo regime póstotalitário. Esta dicotomia, verdade-falsidade, determina o homem a fazer uma escolha, e o próprio acto de escolher representa um acto de liberdade.
Alexandru Manoli in run.unl.pt