Teatro Clássico em Aveiro – Rei Édipo 1, 2 e 3 de julho – 21.30h. – Museu de Aveiro

A necessidade compele o herói trágico à acção, leva-o a agir, a escolher, a sofrer. É livre quando escolhe, mas do exercício da liberdade nasce o sofrimento. O trágico resulta da junção da fragilidade humana, expressa nas catástrofes provocadas por forças transcendentes, cujos desígnios não são inteligíveis para o homem, com a grandeza do indivíduo destruído, agónica expressão da liberdade humana. Do confrontoentre a liberdade humana e o poder do destino nasce uma relação de causa efeito entre acção e sofrimento. Quando a vontade individual entra em conflito com a ordem do universo acontece o trágico, na passagem da felicidade à desgraça que resulta de um erro grave do herói, hamartia, erro provocado pela falta de lucidez. Assim, não raro desempenha a culpa, culpa pessoal ou hereditária, papel de primeiro plano na tragédia. Muito se tem discutido a culpa de Édipo, mas não parece que seja na peça de Sófocles esse o motivo principal. O que move a acção em Rei Édipo é a procura de sentido, a busca da luz, a pedagogia do sofrimento. Tragédia de destino, Rei Édipo representa a condição humana. Às escuras o herói conduz a investigação de um crime; quando descobre a verdade, quando se (re) conhece fica cego, é destruído pela luz. O pathos, sofrimento físico e sofrimento moral, revela-se, portanto, essencial à emoção trágica. Será esta afirmação simultânea da grandeza e da miséria da condição humana que faz Rei Édipo actual, que torna actuante a tragédia grega.
Prof. Belmiro Fernandes Pereira