Precisamos mais de estabilidade ou criatividade? (parte 3)

Por sua vez, o pedagogo canadiano Laurence J. Peter (1919–1990) explicou o êxito profissional dos medíocres através do que denominou “princípio de Peter”: “Numa empresa ou organização, qualquer trabalhador tende a ascender até atingir o seu nível de incompetência.” Se nos promoverem devido aos nossos méritos, acabaremos por ocupar um cargo para o qual não temos competência e deixaremos de nos destacar (e de ascender), permanecendo enquistados no nosso nicho de mediocridade. Uma das consequências é que quem alcança o seu nível de incompetência poderá sentir-se tentado a boicotar os subordinados de forma a não serem promovidos (ou mesmo a serem despedidos); assim, acaba por agir como uma espécie de tampão involuntário para as próximas gerações. Os norte-americanos, que levam muito a sério a questão da eficiência, adiantaram algumas soluções, como a de premiar um bom trabalhador com um aumento salarial em vez de uma promoção. Todavia, parece que entram em jogo outros factores no complexo sistema da mediocridade.
De acordo com o princípio de Dilbert, “as empresas promovem sistematicamente os trabalhadores menos competentes a cargos directivos, a fim de limitar os danos que eles podem provocar”. O termo foi inventado por um economista nova-iorquino, Scott Adams, que é também autor da banda desenhada humorística protagonizada por Dilbert, um excelente engenheiro ao serviço de um chefe despótico. Os desenhos, publicados originalmente no Wall Street Journal, inspiraram posteriormente um livro e, para além do aspecto lúdico, demonstraram constituir um fiel reflexo da organização empresarial nos Estados Unidos (seguramente extensível a outros países). Numa entrevista à revista Funny Business, Adams explicava: “Muitas vezes, promove-se a pessoa menos competente apenas para afastá-la do verdadeiro trabalho. É preferível que se dedique a coisas simples, como pedir café ou gritar com os outros. Os programadores e os cirurgiões, pessoas verdadeiramente brilhantes, não costumam figurar no quadro de administração das empresas.”
A percentagem de medíocres é sempre maior do que a proporção de pessoas notáveis. O que aconteceria se fosse ao contrário e os criativos dominassem? Pois, ninguém vestiria de acordo com os ditames da moda, nem iria querer trabalhar nas fábricas que materializam os inventos dos inventores; haveria frequentes revoluções políticas, os departamentos dos organismos públicos estariam vazios e não haveria best-sellers. Em Ao Farol, de Virginia Woolf, uma das personagens interroga-se se o mundo seria diferente se Shakespeare não tivesse existido, e conclui: “Provavelmente, não. Talvez o bem geral exija a existência de uma massa de servos. O condutor do metro, esse sim, é uma necessidade eterna.”
in superinteressante.pt