Ética e organização social e política.

"O texto aqui apresentado é constituído a partir de duas realidades, que do nosso ponto de vista não podem ser dissociadas uma da outra, que são a ética e a organização. Estes dois conceitos não podem ser vistos exclusivamente como sendo construções teóricas, não são abstrações, são realidades concretas, observadas por todos nós, tornando-se fácil a perceção e a visibilidade dos comportamentos tanto pessoais como coletivos nas organizacionais. Por isso mesmo a conduta ética é o reflexo da conduta de todos os profissionais, fortalecendo as relações interpessoais, o desenvolvimento, o sucesso e a imagem da organização. A ética é nas palavras de Megale o que de mais justo existe. Estas palavras, que são sem dúvida muito fortes, pretendem afirmar dentro do possível, tudo aquilo que move a dinâmica e a justificação na elaboração deste texto. Por conseguinte, a ética e as organizações, tornam-se indissociáveis estando diretamente ligadas a relações, a comportamentos, que nas ciências sociais, não esquecendo a sua dimensão teórica ou cognitiva, assumem medidas que contemplam as observações empíricas. Todos sabemos que a literatura tem produzido uma vasta investigação nesta área. Toda esta literatura aponta para uma forma pró ativa da organização, pois procura perceber através dos comportamentos, dos valores, da moral, da consciência ética, quais as formas e as preocupações com a colaboração entre todos os saberes dos participantes, como podem comprometer-se e contribuir para o seu bem-estar, mas também, para o prestígio e o sucesso da organização. Percebemos então, quando falamos de ética, de valores, de moral nos dias de hoje, sendo apaixonante, não deixa de ser também de grande responsabilidade. Nas considerações defendidas por Banks & Nohr é fácil nos tempos que correm onde tudo é materialismo, individualismo que as indiferenças entre as pessoas sejam muitas. Todos somos responsáveis uns pelos outros, isto torna-se evidente quando pensamos a ética como um bem, não exclusivo de uma pessoa, mas das pessoas em sociedade nas suas dimensões práticas, nos seus comprometimentos em relação aos outros. As ações desenvolvidas nas organizações não podem prescindir dos comportamentos éticos, tanto pessoais como coletivos, sob pena de não cumprirem os seus deveres. A ética é um instrumento de conduta das responsabilidades sociais, das obrigações da organização, para atingir os fins pessoais e coletivos a que se propõe. A ética é um ideal na organização, embora por vezes o ser humano, e porque é humano, percorra caminhos menos éticos e se desvie dos propósitos defendidos pela organização nos seus inícios. (...)
Não é por acaso que as grandes épocas de reflexão sobre a ética foram as grandes épocas de transição, em que se verificaram também muitos episódios antiéticos associados à corrupção, a história está cheia desses exemplos. Desaparecem certezas, as pessoas perdiam o rumo e cada qual fazia o que lhes apetecia, defendendo por um lado os interesses privados, e por outro o grupo. Hoje, em termos semelhantes, volta-se a falar de ética exatamente para se encontrarem normas que conduzam a comportamentos cívicos e de cidadania. Atualmente, tanto o mundo como o nosso país parecem estar numa época propícia para voltarmos a falar de ética nas organizações, sejam elas políticas, económicas, ou outras. (...)
Convém sublinhar, desde já, que a vida em grupo, seja ele qual for, implica que o relacionamento entre as pessoas se paute por regras que permitam evitar e equilibrar eventuais conflitos e harmonizar interesses individuais e coletivos. Viver em comunidade requer que os indivíduos não satisfaçam apenas os seus desejos mas que se adaptem a regras, em virtude das quais se torna possível viver em sociedade." 
Maria Olívia Dias in ucp.pt/Biblioteca