K. Popper e a investigação

" (...) Popper, em substituição dos tradicionais princípios epistemológicos básicos da indução e da verificabilidade, propôs a testabilidade e a falsificabilidade. Defendeu que embora as teorias universais não sejam dedutíveis a partir de afirmações singulares poderão ser refutadas por afirmações singulares já que podem colidir com descrições de factos observáveis. Ou seja: a partir de a) afirmações universais (leis ou hipóteses) e b) afirmações individuais que descrevem condições iniciais, deduzimos c) uma afirmação ou previsão individual específica. As condições iniciais são as denominadas causas de um acontecimento, e a previsão o denominado efeito. Dependendo do nosso problema, o modelo hipotético - dedutivo (H-D) poderá ser utilizado tanto para explicar, como para prever ou para efectuar testes.
Popper concebe que uma teoria se testa em termos de quatro parâmetros principais: 1) em 1º lugar, há a comparação lógica das conclusões entre si, por meio da qual se testa a consistência interna do sistema. Ou seja devem apenas ser levantados problemas para investigar que sejam únicos, isto é, que ainda não tenham sido concluídos em conhecimento anterior. 2) seguidamente é a investigação da forma lógica da teoria, com o objectivo de determinar se possui o carácter de uma teoria cientifica. É a aplicação correcta do método que garante, à partida, a cientificidade duma investigação. Trata-se, portanto, da aplicação correcta do curso de acção referido atrás, cujo núcleo duro se baseia no princípio popperiano de que a ciência é uma sequência de conjecturas, pelo que as teorias científicas são propostas como hipóteses que serão substituídas por novas hipóteses quando falsificadas. Pode-se, talvez, dizer que esta relação testabilidade - falsificabilidade terá sido uma inspiração de Popper no modelo darwiniano da evolução10, aplicado às teorias científicas. 3) em terceiro lugar, temos a comparação com outras teorias, principalmente com o propósito de determinar se a teoria poderá constituir um avanço científico depois de ter sobrevivido aos vários testes. Ou seja, se a teoria não passar os testes significa que não foi corroborada pela experiência, é por isso falsa, se passar os testes deverá, para além disso, ser confrontada pela análise e discussão com as teorias já existentes para aferir da verdadeira dimensão da sua contribuição científica. 4) e, finalmente, temos o teste da teoria por via da aplicação empírica das conclusões que podem ser obtidas a partir dela. Estando feito o confronto científico com outras teorias existentes, realçam-se os contributos e as implicações práticas que das novas conclusões poderão emergir e, também, a abertura que se dá a novos investigadores de procurarem a corroboração ou falsificabilidade posterior, com novos factos, ao novo conhecimento. Assim, testar uma teoria consiste em grande parte numa tarefa teórica na qual a lógica é o principal instrumento de análise, tendo a falsificabilidade como critério de decidibilidade acerca das teorias científicas e como critério de demarcação e o confronto bilateral entre a teoria e experiência como o ponto decisivo do trabalho científico, isto é, o confronto entre a componente empírica da investigação e a revisão teórica efectuada. Mas, apesar de tudo, e por contraste com o indutivismo, a metodologia popperiana é um dedutivismo. Para Popper, neste jogo da ciência, qualquer jogada é possível, desde que o cientista não recorra a hipóteses ad hoc nem tente refutar o núcleo duro, porque para além de servirem para demarcar a ciência da pseudo - ciência, a falsificabilidade e a falsificação integravam o objectivo cientifico da produção de explicações causais completas. Apresentar uma explicação causal de um acontecimento significa deduzir uma aferição que o descreve, utilizando como premissas da dedução uma ou mais leis universais, juntamente com determinadas afirmações individuais, as condições iniciais. Portanto, este método hipotético - dedutivo consiste, igualmente, em oferecer explicações causais dedutivas e em testá-las através de previsões, com base numa relação lógica entre proposições, sendo que o conhecimento resulta das proposições que refutam as hipóteses e teorias iniciais."
Pedro Picaluga Nevado in repository.utl.pt