O paradigma em T. Kuhn

Um paradigma é um modelo que dá nascimento a tradições particulares e coerentes de pesquisa científica, quer esboçando as teorias aceitáveis quer os dispositivos experimentais que suscitam, isto é, é um modelo interpretativo e seleccionador dos factos presente na mente dos cientistas e que inclina a dirigir a investigação segundo as teorias dele derivadas. É uma estrutura de conhecimento aceite epocalmente pela maioria dos cientistas, a partir do qual analisam e interpretam os factos e desenvolvem teorias e regras que, descobrindo novos factos ou novas relações entre factos, comprovam a justeza dos princípios por que o paradigma se afirma. Deste modo, um paradigma científico assenta socialmente num grupo relativamente coeso de investigadores que o aceitam como melhor interpretação dos factos e despoleta neles um modo epistemológico comum de conceber a natureza. É com base nesta perspectiva epistemológica comum que os cientistas elaboram teorias e procedimentos técnicos particulares racionalmente explicadores das suas observações. Não há, portanto, factos brutos, mas factos construídos: por detrás do sujeito científico e dos factos existe sempre um paradigma mental no qual o sujeito foi educado escolarmente e pelo qual observa e interpreta a natureza. Diferentemente de August Comte, Th. Kuhn considera que a observação reiterada dos factos, bem como a sua experimentação laboratorial ou a sua matematização por via de relações universais (leis quantitativas) não são suficientes para que se construa uma teoria científica, isto é, o observador científico não é neutro, não analisa os factos segundo uma transparência mental totalmente despreconceituada ou sem prévios esquemas de conhecimento que o orientam na análise dos factos. O cientista observa os factos partindo de teorias ou pressupostos teóricos. Caso fosse neutro, o conhecimento científico tornar-se-ia uma acumulação contínua e crescente de novas descobertas, sempre cada vez mais profundas ou cada vez mais extensas, não negando as teorias anteriores, apenas as ultrapassando em profundidade ou em relação extensiva com outros factos. Portanto, Kuhn defende que as novas descobertas sobre os factos científicos forçam a uma revolução das teorias interpretativas anteriores sobre esses mesmos factos, levantando deste modo uma ruptura racional entre a teoria anterior e a nova.
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