Da avaliação formativa à autoavaliação em sala de aula

Quem procura um especialista de qualquer área de medicina procura um diagnóstico e um ou mais medicamentos para as suas doenças. Imaginemos sair do consultório só com um relatório médico a dizer algo como "estado geral da saúde: 11 valores em vinte". Nenhum de nós ficaria satisfeito. E os alunos que recebem apenas uma classificação sem apontar claramente erros, sem qualquer anotação mais indicativa, sem qualquer posterior correção?  De que vale uma escola cuja avaliação só confirma "a doença" sem identificar ou mostrar a cura? 
Tal como o médico, que ouve o relato de sintomas, examina o doente e analisa relatórios de meios complementares de diagnóstico também nós, professores, temos à disposição diversos recursos que podem ajudar a diagnosticar problemas da turma e de cada aluno. É preciso, no entanto, prescrever o remédio: a avaliação escolar só faz sentido se tiver o intuito de encontrar caminhos para uma melhor aprendizagem.
Não é novidade o modelo de avaliação formativa. A diferença é que ele é visto como o melhor caminho para garantir a evolução de todos os alunos, uma espécie de passo à frente em relação à avaliação conhecida como somativa. 
Para muitos professores o real valor está no ensinar, no entanto já há muitos anos que a ênfase do sistema está no aprender. Isso significa uma mudança do currículo,  da gestão escolar, da organização da sala de aula, dos tipos de atividade e, consequentemente, da forma de avaliar o aluno. 
A avaliação formativa não tem como pressuposto qualquer punição ou prémio. Antes reconhece que os estudantes possuem ritmos e processos de aprendizagem diferentes. Por isso, o professor tem que diversificar as formas de trabalho com a turma.
Para que a avaliação sirva à aprendizagem é essencial conhecer cada aluno com os seus problemas e as suas necessidades. Assim o professor poderá pensar em caminhos alternativos para que todos alcancem os objetivos. 
Se o objetivo é fazer com que todos aprendam, um dos primeiros cuidados é informar o que vai ser dado em cada aula e o porquê de estudar isto ou aquilo.
O aluno deve saber sempre onde está e o que fazer para avançar. 
Quando o professor discute com os estudantes os objetivos de uma atividade ou unidade de ensino, deverá dar também os meios para que eles acompanhem o seu próprio desenvolvimento: isto pode ser feito, por exemplo, por meio da auto-avaliação ou então através de uma outra forma de diagnóstico
As conclusões desta avaliação diagnóstico podem servir tanto para suscitar ações individuais como para redefinir os rumos de um projeto para a turma como um todo. 
Durante o processo de auto-avaliação, é importante que todos possam expor sua análise, discutir com o professor e os colegas, relatar suas dificuldades e aquilo que não aprenderam. Nada garante que os olhares serão iguais entre alunos e o próprio professor.
Além de ser mais um instrumento para melhorar o trabalho docente, a auto-avaliação é uma maneira de promover a autonomia. Para que isso realmente aconteça, o processo necessita de ser realmente democrático. O aluno deve dizer sem qualquer medo de punição o que sabe e o que não sabe:  se ele perceber que não há punição nem exclusão mas um processo de melhoria, naturalmente deverá pedir para se avaliar.
Francisco Lopes (adaptação)