Os Pilares da Sociedade de Informação e do Conhecimento

Se o capital intelectual permite criar conhecimento e gerar valor, somente o capital relacional permite que o valor gerado seja partilhado criando riqueza e sustentabilidade
Nunca em toda a história o ritmo das mudanças foi tão acelerado, razão pela qual diversos investigadores têm procurado explicar este fenómeno. Toffler visionou o surgir de uma «terceira onda», isto é, uma nova configuração económico-social, baseada na informação e no conhecimento, numa evolução histórica que superou as ondas anteriores, baseadas primeiro na agricultura e depois na indústria. Castells identificou como principal característica desta nova onda, a formação de uma rede global omnipresente, que não se limita aos mercados e à economia, mas atinge também a vida social e cultural, que denominou de Sociedade em Rede. No campo organizacional, Peter Drucker já há muito alertou os gestores para o aparecimento de uma Sociedade do Conhecimento, na passagem de uma realidade industrial para uma pós-industrial, desafiando-os a entender a realidade actual e a serem capazes, em termos de cenários futuros, a vislumbrar um pouco de ordem num mundo cada vez mais assoberbado pela incerteza, pelos paradoxos e pela descontinuidade.
Na sociedade emergente, é referido insistentemente que o conhecimento passou a ocupar um lugar entre os tradicionais factores de produção - terra, capital e mão-de-obra, talvez mesmo o mais importante. A velocidade das mudanças, a volatilidade do capital financeiro, a competitividade global, a consciencialização crescente do cliente, o hiper-desenvolvimento científico e a rapidez da sua incorporação em produtos e serviços, a redução do ciclo de vida dos produtos, os avanços da telemática e a emergência do ciberespaço, a supremacia do modo de produção capitalista são factores, entre outros, que acabaram por levar o conhecimento ao papel central do desenvolvimento empresarial, social e económico. O desafio central da economia global é a capacidade de organizar dados para deles extrair informaçõese transformar estas em conhecimentos. Quando ao conhecimento se junta a habilidade e a atitude, construímos uma competência, que permite ao seu portador, quer seja uma pessoa ou uma organização, desempenhar um papel concreto no mundo, quer seja resolver um problema, satisfazer uma necessidade ou criar novas oportunidades. Se a telemática ou os sistemas e tecnologias de informação e de comunicação permitem que a informação possa ser acumulada e gerida através de sofisticadas bases de dados electrónicas, bem como comunicada e transferida à distância rapidamente, a capacidade de criação de conhecimento depende fundamentalmente da inteligência humana. Se o fluxo da informação permite manter rotinas de trabalho, é somente o conhecimento que circula tacitamente nos humanos que se transforma no grande trunfo estratégico das organizações. Enquanto o conhecimento já explicitado pode ser copiado por um concorrente, a criatividade, a capacidade de resolução de problemas, a visão, os relacionamentos, a capacidade inovadora, o trabalho de colaboração, os insights, o diferencial de um serviço, por exemplo, dificilmente podem ser imitados. Deste modo, para navegar na economia do conhecimento é essencial reinventar as corporações sob o signo da aprendizagem contínua.
Se o conhecimento tem um papel central na nova economia, o seu corolário necessário é a aprendizagem. Sendo a geração de riqueza dependente cada vez mais dos activos intangíveis e sendo o capital humano a fonte essencial destes activos, é preciso fomentar as esferas cognitivas e existencial, que dependem fortemente de uma mudança cultural, de uma nova visão e um novo modelo mental.
No campo organizacional, a criatividade e a inovação dependem da formação de equipas de trabalho, baseados numa cultura colaborativa voltada tanto para a produção quanto para a aprendizagem, como forma de desenvolvimento das pessoas e de fortalecer o relacionamento produtivo entre elas, razão pela qual é essencial também investir no capital relacional, ou seja nas redes de relações que sustentam o conviver humano, tanto dentro quanto fora do mundo do trabalho. Desta forma, numa economia intensiva em informação e conhecimento é fundamental fomentar e disseminar as Redes de Aprendizagem e de Conhecimento, de trabalho cooperativo, atravessando toda a cadeia de valor e ligando todos os stakeholders. Não é apenas o conhecimento que gera valor, mas também o relacionamento humano através do qual este conhecimento pode ser agregado a produtos, processos e serviços e disponibilizado para consumo. A emergência desta inteligência sustentável acontece a partir da convergência entre as competências cognitivas e existenciais, onde assume um papel de destaque a capacidade de utilizar as tecnologias de informação e de comunicação.
Num Portugal com futuro é fundamental uma aposta em projectos de educação e inclusão cognitiva orientados pelos quatro pilares da Educação do Futuro, sugeridos pelo Relatório da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, da UNESCO: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. É na convergência destes quatro fundamentos (conhecer, fazer, conviver, ser), e da acessibilidades às tecnologias que se permite integrar o capital humano e o capital relacional, promovendo a inclusão digital e cognitiva e a emergência de uma inteligência inclusiva sustentável.
Em síntese, Portugal deve estabelecer urgentemente um Arquétipo para a Gestão da Aprendizagem e do Conhecimento de forma integrada, incluindo nas suas estratégias, tanto internas quanto externas, uma orientação para o desenvolvimento das habilidades cognitivas (aprender a conhecer), profissionais (aprender a fazer), relacionais (aprender a viver juntos) e existenciais (aprender a ser), que não tem vindo a receber a atenção devida no mundo escolar, no ambiente profissional e no universo cultural. Se a inovação e as tecnologias de informação e de comunicação são o motor da «nova economia», só a inclusão digital e cognitiva será o motor da «nova sociedade». Se o capital intelectual permite criar conhecimento e gerar valor, somente o capital relacional permite que o valor gerado seja partilhado criando riqueza e sustentabilidade. Pelo que não haverá em Portugal desenvolvimento verdadeiramente sustentável sem um grande esforço colectivo de inclusão digital e cognitiva.

Ricardo Vidigal da Silva in www.jornaldenegocios.pt