A Eutanásia em jeito de dicionário

Eutanásia
Etimologicamente, o termo eutanásia significa “boa morte”. Segundo esclarece Walter Osswald, no livro “Sobre a Morte e o Morrer”, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, tal implica que “uma pessoa solicitou que a matassem, e outra (geralmente pertencente a uma profissão de saúde) acedeu a esse pedido“. Não engloba, portanto, situações de “morte misericordiosa” com a finalidade de evitar ou colocar um ponto final no sofrimento um doente grave e/ou terminal. Daqui se conclui que o conceito de eutanásia acarreta o pedido de quem é executado, sendo que de outro modo se está perante um caso de homicídio (ainda que a lei lhe reconheça circunstâncias atenuantes). O critério de exclusão é, portanto, o “pedido” consciente e repetido de doentes, ou mesmo idosos, que pretendem.

Eutanásia activa
Eutanásia “realizada por intervenção activa de quem a pratica” (Walter Osswald), através da administração de injecções letais, fármacos com efeito supressor de consciência e depressor respiratório.

Eutanásia passiva
Eutanásia levada a cabo por interrupção deliberada de um suporte indispensável à manutenção da vida (ventilação assistida, suporte circulatório, alimentação e hidratação), numa omissão que conduz à morte intencional do doente.

Suicídio assistido
Corresponde a uma “morte a pedido” por parte de alguém que, estando em estado terminal, a tenha requisitado por várias vezes e não sofra de qualquer perturbação psiquiátrica. Nestes casos, a “ajuda à morte” corresponde a uma poção letal sujeita a prescrição médica, que o doente ingere voluntariamente.

«Eutanásia encapotada»
Recurso à sedação terminal mediante o pretexto, acima referido, de proporcionar uma morte tranquila ao doente, com o consentimento implícito ou explícito de familiares, mas sem que para tal existam indicações médicas formais e, sobretudo, sem ter sido inequivocamente solicitada pelo doente.

Distanásia
Conceito contrário ao eutanásia, é o de distanásia, que significa “má morte” e está associado a uma morte acompanhada de um enorme sofrimento físico, emocional, existencial até, com desconforto, sentimentos de angústia e longe dos entes queridos.

Encarniçamento terapêutico ou obstinação terapêutica
Como refere Walter Osswald, “deixar morrer não é matar” e adoptar e/ou não suspender medidas e intervenções médicas fúteis em doentes cuja deterioração do estado clínico e o prognóstico fazem adivinhar a aproximação do momento da morte enquadra-se no que se considera má prática da Medicina, sendo eticamente condenável.

Ortotanásia
Corresponde a permitir que a morte aconteça de uma forma natural, sem utilização de meios artificiais para prolongar a vida do doente. Pressupõe um acompanhamento para que este seja um processo isento de dor e sofrimento, a uma prestação de cuidados que garanta as melhores condições possíveis ao doente em fim de vida.

Sedação terminal ou paliativa
Administração de sedativos com a finalidade de induzir um estado de inconsciência – coma – mediante indicações médicas muitos precisas, como sejam a redução da agitação, o alívio da dor ou a supressão de convulsões. Induz depressão respiratória e incapacidade de alimentação natural, e pode encurtar a vida de um doente que se encontre em estado terminal. É solicitada pelo doente em fim de vida com o intuito de eliminar sintomas graves durante o curto tempo que lhe resta, poupando-o ao sofrimento e à agonia. O objectivo não é provocar a morte (embora a possa antecipar), mas sim proporcionar uma morte tranquila.

Morrer com dignidade
O argumento-chave de toda a discussão sobre eutanásia, e o que mais sujeito está à interpretação pessoal de cada um. Para uns, morrer com dignidade é morrer de acordo com uma decisão sua no que concerne ao onde e ao quando, com o auxílio de terceiros. Para outros, corresponde a morrer de forma natural e tranquila, sem dores e na presença de quem ama. De um ponto de vista humanista, qualquer tipo de morte deve ser uma morte digna, na medida em que o respeito pela dignidade do doente deve ser transversal a todas as circunstâncias em que esta possa eventualmente ter lugar.
in http://revistafrontal.com/revista/choque-frontal/eutanasia-2/